Saturday, January 31, 2009

Story Tellers #8

Aquele sofá era o seu conforto. Gui adorava sentar-se naquele pedaço de mobília castanho e escrever. Escrever, escrever, escrever e escrever. Era a sua paixão. A sua 'razão de viver'. Também adorava hipérboles. Adorava exagerar nas suas metáforas e histórias. Escrevia bem como tudo. Sabia exactamente aquilo que queria dizer, menos o que queria sentir. Sabia que não se controla esse tipo de coisas. Que não podemos saber de quem gostamos, como gostamos, de que forma gostamos e quando deixamos de gostar. Pensava todos os dias que não tinha uma musa, a razão da sua inspiração e isso, em si, inspirava-o. Não se deixava afectar por todos os casais do mundo, felizes ou não, sendo ele um solteirão enraizado e enviesado. Achava não ter nada para dar ao mundo sem ser a sua escrita, a sua própria forma de ver o mundo. Não sonhava em viver com outras mulheres, em ter filhos, a casa e o carro ideal, nem tinha muitos luxos, só o seu Mac e a sua mesa digital, que lhe tinham custado três ordenados poupados. Vivia de escrever crónicas e artigos para um jornalito qualquer. Orgulhava-se de, pelo menos, conseguir sustentar-se nestas alturas críticas onde as pessoas começam a pensar nos quartos e quintos andares dos edifícios onde moram, como os seus melhores amigos (para se atirarem claro). Não tinha quaisquer intenções de desistir ou de se ir abaixo. Achava que, sem luxos, ninguém é infeliz, por isso ele não os tinha. Vivia num T0 em Lisboa, numa ruelazinha recatada, tinha de subir todos os dias 365 degraus para chegar à porta do prédiozinho com apenas dois andares e 5 portas por andar. Gostava de ter de subir os 365 degraus, comparando-os aos dias do ano e cada dia era mais um. Tinha a sensação que passavam mais devagar (os dias) de maneira que os aproveitava melhor e sentia as pequenas coisas. Não era um tipo sensível, mas consciente. Não tinha grandes sonhos nem grandes expectativas pela grande quota de desilusões que à sua volta lhe foram dando. Mas, none of the less, era um rapaz cheio de ideias e com uma imaginação sem fim. Não percebia nada de blogues ou hi5's, facebook's ou myspace's, mas percebia aquilo que pensava e aquilo que escrevia. Preocupava-se muito com o que os leitores percebiam da sua escrita e, portanto, tinha o cuidado de se pôr no lugar deles, de vez em quando. A única coisa que lhe dava pura satisfação, para além de escrever, era aquele sofá, que foi o seu companheiro até ao derradeiro dia...

Sunday, January 25, 2009

Pensamento do momentO

O que é que acontece quando, simultaneamente, desistimos e esforça-mo-nos por nós próprios?!

(0:02h)

Friday, January 16, 2009

é


imagem tirada daqui

Story Tellers #7

Modesta e mal acompanhada, Maria andava sempre de chapéu. Tinha um cabelinho curto, cara pálida, olheiras vincadas, lábios finos e olhos como amêndoas. Adorava artes e tudo relacionado com elas, mas nunca lhe tinha interessado nada em particular, gostava da sua generalidade, da sua originalidade, da espontaneidade que esse tipo de coisas lhe transmitia. Ela era pouco espontânea e tinha uma visão da vida muito peculiar, que não partilhava com ninguém a não ser as vozes na sua cabeça. Vozes a que, por vezes, chamava de consciência, outros de estupidez aguda, outras nem pensava nelas (coitadas). Costumava lanchar flocos de maçã e deitar-se na sua cama ao final de tarde, a pensar. Só pensava, pensava, pensava. No quê, não sabemos, mas também não é importante. Mas era importante para Maria, que pensava, pensava, pensava. Pensou para si, apetece-me ir dar um passeio no parque, mas não aguento a solidão de andar sozinha, apetece-me ir até Belém, mas não aguento o caminho longo, apetece-me ir a pé até ao Saldanha, mas está demasiado frio. Ou seja, faltava-lhe vontade, motivação, ponto de partida, uma mão imaginária a dar um puxão, um braço envolta a dizer que tudo iria correr bem e pessoas na vida que lhe dessem coragem. Falta-lhe muitas coisas. Não tem namorado, poucos amigos, também não costuma sair muito à noite, nem mesmo de dia. As raras ocasiões em que usa chapéu, aquelas em que sai de casa, são as mais felizes dos seus dias. Os fins-de-semana são os piores porque, normalmente, fica sempre agarrada aos lençóis a pensar o que quer mudar no quarto. Muda a disposição do quarto tantas vezes por sentir que falta alguma coisa na sua vida. Ao contrário do cabelo, que desde os 5 anos está sempre no mesmo comprimento, cor e aspecto. As tábuas do tecto chiam dos vizinhos de cima. A vontade que tem é de atirar tudo do seu 5º andar e apanhar boleia até Salamanca, começar uma nova vida, livre das pessoas da triste cidade de Lisboa, livre do ar, livre do que quer que seja que a prende em casa e não lhe permite ter a alegria de viver de que ela se lembra, uma vez, de ter tido. Afinal de contas, o que nos deixa presos à nossa casa deveria ser o bem estar, a comodidade, pensava ela, e não o conformismo, o assentar. A casa também não era muito grande, mas ela vivia sozinha, portanto tinha todo o espaço disponível. O espaço estava cheio de cabides de onde penduravam os chapéus que representavam uma vida triste, depressiva e cheia de poucas emoções. Pensou Maria que, quando morresse, ninguém daria por ela, sozinha no seu canto, com todos aqueles chapéus. Mas o mais estranho era a sua inata vontade de viver e querer ser feliz. Existia sempre alguma coisa que a impedia de assim ser. O que ela ainda estava para descobrir era, o quê.

Ponto de Interrogação

Às vezes pergunto-me porquê preocupar-me eu se a outra pessoa não está nada preocupada? Porquê ser eu ser outra pessoa não quer saber? Porquê? É o meu pensamento do dia e, parece que, da semana, que vai de mal a pior. A solidão é uma coisa terrível que nos belisca no rabo e não nos deixa sentar durante muito tempo = estou farta de estar sozinha e não compartilhar os meus dias com ninguém mas sentar-me tristemente, todas as tardes, no meu sofá a não fazer nada. Porque estou doente, porque não tenho motivação, porque estou com o período, porque não consigo ter ânimo, porque estou farta e porque nobody cares! Melhores semanas para todos.

(este texto foi escrito com a maior calma do mundo, sem nenhum tipo de tom agressivo)

Tuesday, January 13, 2009

menos quatro graus celsius

depois de garantir a minha presença em Madrid por quatro dias (mais ou menos), ter visto neve, o palácio real, a chueca, a torre de espanha, o estádio santiago barnabéu, o matadouro, o prado, o passeio do prado, o parque mais lindo do mundo, o restaurante com as melhores tapas, ter comido a melhor paelha e passado o maior frio, estou de volta ao lugar que já tem as minhas nádegas marcadas, o meu cheiro espalhado, o meu toque e a minha presença entranhada. o lugar que nada conhece de mim e a que eu, reluntantemente, chamo de casa. miséria solitária que me deixa sem vontade, até, de escrever. medo!

Monday, January 5, 2009

Ulala!

Eu sei que ando demasiado revoltada. Deve ser do ano novo. Preciso de um sprussing up (?). Acho que me tenho sentido desiludida, não só com outros mas comigo mesma.

Bom 2009!


cortesia do getty images

hoje preciso!

viagem a lado nenhum

no dia em que parar de ser 'escrava' de alguém, lambo o chão! estou aborrecida de crises, problemas e coisinhas sem importância, quando existem SEMPRE coisas que nos conseguem deixar felizes e menos tristes, se quisermos. façam uma sopa, lavem uma peça de roupa, observem-se nus à frente do espelho, olhem para vocês muito antes de olharem para os outros porque todos sabem criticar outros, mas não sabem criticar o próprio. não sabem, não conseguem! podem não se achar perfeitos ou belos ou inteligentes, mas existe sempre alguma coisa que faça pensar 'epa, eu até gosto disto' seja das mãos, dos pés, da clavícula esquerda, não interessa, mas não despejem nos outros, aquilo que vos faz miseráveis! desabafem, sejam amigos, sejam compreensíveis, tenham compaixão, gostem. dois dos clichés que descobri que são uma das maiores verdades é que um abraço é de ouro, um sorriso consegue-nos muito. é verdade! e quando mais preciso de alguém, alguém me falha. quando mais precisam de mim, também me acontece falhar. mas diz-me, diz-me aquilo que precisas, elucida-me, eu estou aqui para te compreender, para te levar a chorar, para te secar o que chorares, para ser eu, quem tu conheces, quem tu sabes que podes contar, quem te adora. depois de tudo, não mereço algum respeito de alguém na minha vida?

Sunday, January 4, 2009

Story Tellers #6

Agora que ando a ler saramago, sinto-me capaz de ser atrevida na escrita e ter um estilo semelhante, mas espero, não copiado, do nobel da literatura. Sem utilizar grande pontuação ou maiúsculas, orienta o leitor numa das mais complicadas tarefas que, eu, encontro na literatura, a compreensão. Consigo perceber tudo o que ele quer dizer e diz de uma forma ágil, despreocupada e muito sábia. Até tenho inveja, se é que me posso atrever e penso que um dia mais tarde, também quero escrever assim e seguir um sonho que tenho desde muito pequena, sonho que não me atrevo a contar. Quero que a escrita flua em mim e me deixe expressar bem e expressivamente aquilo que penso, que crio, que desejo, anseio e quero partilhar. Todos deviamos ter a oportunidade de escrever e bem. Saber exactamente como e o que queremos dizer aos outros, sem que eles comecem a pensar antes de já terem acabado. Conhecer e rodopiar com o alfabeto e o vocabulário mais vasto que o céu, com a língua tão nossa e portuguesa, tão minha, tua, deles, a língua que a alguns soa tão mal, mas acaba por ser a que falamos e nos acompanha em pensamento e fala. Tenho sempre mil e uma ideias para histórias, mas nem sempre as consigo dactilografar ou teclar, por falta de vontade, de letras, até de esforço e da mesma forma, acabo por fazer o mesmo com outros assuntos da minha vida. Esqueço o esforço, a vontade, a dignidade, aquilo que me faz sentir bem, em prole de outro tipo de coisas que, a longo prazo, não são satisfatórias, não me ajudam ou completam, não me fazem sentir genuína ou alegre. Toda a gente gosta de se sentir alegre e bem disposto, com apresso por boas piadas ou histórias, com paciência para os outros e outras, com destreza para se perceber a si próprio e ter noção do que o faz feliz. Eu às vezes consigo ter essa noção na minha cabeça, no meu corpo, na minha mente. Consigo encontrar em mim uma luz perdida, uma fonte de prazer, espécie de orgasmo intelectual, ao oposto do físico. Ajudem-me aqueles que me fazem sentir assim, que conseguem e sabem a essência do que faz despoletar um sorriso, um olhar, um abraço, um beijo, um carinho, uma vontade.

Saturday, January 3, 2009

a estranha sensação de não te conhecer

Já vos aconteceu, olharem atentamente para uma pessoa e não a conhecerem? Uma pessoa como a vossa mãe ou pai, uma pessoa que conheceram a vida toda e que, de repente, pensam eu não te conheço, eu não sei quem tu és e o que fazes. Ontem ao jantar, em casa, isso aconteceu-me. Não interessa com quem, mas aconteceu. Olhei enquanto falava, enquanto conversava com outras pessoas e não reconheci aquela pessoa, aquele ser humano à minha frente, que esteve sempre presente a vida toda. Deu-me uma enorme vontade de chorar, de gritar, de espernear, quem és tu?