Sunday, October 26, 2008

Story Tellers #3

Despido de medo, nervosismo ou outra qualquer forma de travão, subiu aquela rua, bateu naquela porta e beijou aquela mulher. Tinha acabado de apagar o cigarro, estava a ressacar de saudades dele e não sabia bem como reagir àquela espécie de coragem, emancipação. A língua entrou, saiu e voltou a entrar, numa beijo à película, de uma forma meio babada. Ela parou a loucura momentânea, pensou no que haveria de ser se o outro soubesse e, do nada, começou a chover. Caíam pedaços de água do céu, caíam com violência, queriam espatifar-se no asfalto, empurrar a sujidade da vida das pessoas, trazer uma nova alvorada. Ele não subiu ao 3ºB. Ela não trouxe sapatos para sair para a rua. A porta tornou-se uma barreira e foi fechada suave e delicadamente - não pela situação mas por ser velha e já estar estragada. Alguma coisa se passou naquela noite. Alguma coisa mudou naquelas duas pessoas e na sua maneira de ver uma relação. Ela, mudou a sua atitude face às relações, às pessoas de quem gostava, à vida que vivia. Descobriu que não tinha de ter, apenas, um amor, mas que podia usufruir de vários - não necessariamente de homens, mas era heterossexual. Ele, nunca pensou sentir alguma coisa tão forte, de forma tão insaciável por outra pessoa, por aquela pessoa, aquela mulher ou rapariga, que lhe entrava no corpo, que o consumia, que o deixava sem reacção ou com um relâmpago de espasmos. Nada fazia sentido para a vizinha de cima, já velha e sem muita experiência de vida, observava os acontecimentos daquela ruelazita e aquele, era o mais peculiar da semana de Fevereiro. Ela subiu, acendeu outro cigarro e sentou-se no parapeito da janela, olhou pelo vidro e ficou a apreciar aquela noite, sem dormir, a fumar e a pensar no beijo, na estranha sensação de felicidade e naquele que a proporcionou. Ele, foi a correr pela rua abaixo, escorregou, ficou no chão, sentou-se e deixou-se ficar à chuva, o resto da noite, a pensar "e se..."!

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