Friday, February 13, 2009

Story Tellers #10

Aquele ritual, se é que assim se pode chamar, não era comum na vida de M. Levantar-se cedíssimo, despachar-se, dar um passeio matinal - enquanto ainda era de noite - chegar a casa, tomar banho e dirigir-se à esteticista onde era cliente pouco habitual. Despiu as calças e retirou as meias, deitou-se na maca e dobrou os joelhos. A senhora, brasileira, começou a meter conversa com a M. ao mesmo tempo que começava a espalhar a cera perna abaixo, nas duas pernas. Pegou numa primeira tira daquele material que utilizam para retirar a cera e zumba, uma faixa mais branquinha na pele de M. Outra e outra vez, até a perna ficar lisinha e quase transparente - o seu tom de pele era muito frágil e igualava-se a um copo de leitinho. Entretanto, chegou à parte das virilhas, a parte mais constrangedora desta situação! Ela pensou, todas as mulheres se devem sentir vulneráveis e desconfortáveis nesta situação: de perna aberta, sem cuecas, com um espelho à frente, exposta à sua própria pele, ao seu próprio corpo, quase às suas próprias entranhas. Sentiu a sua cara a corar e viu o seu reflexo a copiá-la. A brasileira lá fez o seu trabalho, demasiado bem, com muita atenção aos pelitos que se recusavam a sair das zonas mais difíceis do clitóris - sim, M. pensou, porque ela chegou a esse extremo suave e tão embaraçoso. Apesar de não ter namorado, M. gostava desta sensação suave e sem pêlo. Pensou se alguma vez estaria naquela posição para o próprio amante. Ao terminar, a brasileira pegou numa toalhita - daquelas de limpar os rabiosques dos bebés - e começou a retirar o excesso, quase a chegar à bexiga. Foi o momento mais estranho, constrangedor, horrível da vida de M. e nunca sentiu tanta vergonha, de uma e outra pessoa. Pensou, também, que nunca na vida gostaria de ser esteticista e fazer de vida olhar para os pêlos de outras mulheres e arrancá-los com uma pinça que, sejamos sinceros, é quase a mão. M. ficou a analisar o ambiente, enquanto a brasileira tirava a parte de trás das pernas. Não seria aquele um ambiente ideal para filmarem, através do espelho, e publicarem na internet? Enquanto uma mulher tem aqueles momentos embaraçosos, alguém, por detrás do espelho, com uma câmara, a filmar e filmar e filmar. Não? Será assim uma ideia tão estúpida? Pensou M. ...

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