Monday, June 8, 2009

Story Tellers #14

Ele gritou AAAAAAAAAAAAAAAH numa dor excruciante quando lhe espetaram aquela agulha enorme no braço. A ideia de passar o dia com um tubo enfiado no braço, no nariz e no pénis não agradava. Não agradava nada. A B. chegou ao pé dele e agarrou-lhe na mão, ele não percebia como a deixaram entrar naquela altura na sala de hospital, mas não questionou, deu graças a Deus não estar sozinho. Entretanto ela ofereceu-se para lhe ir buscar uns cubinhos de gelo em água, para aliviar qualquer pressão que estivesse a sentir. Ele não se estava a aperceber do ambiente envolto. Da sala de emergência cheia de pessoas aos gritos e a gemer, não se apercebeu porque era um deles. Uma daquelas pessoas e nunca pensou que alguma vez na vida fosse acontecer tal coisa. O que esperavam dele era uma recuperação rápida e lenta - como todas são. Até que, finalmente, se lembrou de perguntar o que é que tinha acontecido. O enfermeiro ao seu lado disse que tinha havido um desastre de carros massivo na A23, e muitas pessoas tinham vindo parar ao hospital. Lembrou-se da B. e porque é que ela não tinha sofrido nada (graças a Deus). Eles perguntaram quem era essa B. e se vinha com ele no carro. Ele afirmou e perguntaram que carro tem, um Smart para dois e o enfermeiro encarou o médico com um olhar tão profundo, tão desiludido, tão preocupado e, então, apareceu a B. ao lado dele, com o copo de água. Respirou de alívio e disse ao enfermeiro que era esta a outra passageira. O enfermeiro assustado perguntou quem, e ele, esta que está com o copo na mão. Outro olhar, outra onda de pensamentos, e então, o enfermeiro pediu um scan completo para poderem perceber o que se estava a passar. Ele começou a gritar e pediu à B. que não o deixassem levar porque se sentia bem. Horas mais tarde, dentro daquela máquina grotesca, a adrenalina parou de fazer efeito, o coração não aguentou e deixou de bater. O incessante piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii nunca mais acabava, e de repente um choque percorreu o corpo dele, como uma espécie de arrepio ou faca que espeta na coluna. Nunca nada lhe doeu tanto. Nunca desejou tanto estar morto. Afinal de contas, sem a B. na sua vida, nada fazia sentido.

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