Tuesday, April 29, 2008

Erupções de literatura #4

A manhã tinha uma brisa abafada no ar e o quarto cheirava a tabaco da noite anterior. Os bares onde dançaram e se divertiram esgotaram aquele tecido de fraca qualidade, e o cheiro entranhou-se. Ela abriu as portadas da janela que davam para um jardim verde e bem tratado. Ouviu um besouro a voar, provavelmente à procura do seu ninho ou de comida. Ela sentia os lábios secos e, quando olhou para ele, deitado, numa posição serena, apeteceu nunca mais o ver. Ele acordou - secalhar porque pressentiu aquele pensamento que nunca lhe passará pela cabeça - e olhou para ela a sair do quarto. Continuou deitado, a olhar fixamente para o mesmo sítio até ela chegar com uma torrada na mão e um prato noutra. O trincar dela era música para os ouvidos dele, que gostava de ver aquele hábito. Pegou-a nos braços e começaram a brincar, que nem uns palhaços, a rolar pela cama, pelo chão, um por cima do outro, a magoarem-se mutuamente, a darem pancada. Até que os lábios se tocaram, ela cedeu e foram tomar banho. Banho que demorou pouco tempo, a paixão, a vontade era maior e foram para a secretária do quarto. Fizeram amor e deitaram-se no chão, com mais calor que aquele que estava, voltaram para o banho, onde namoraram mais e mais e mais. Aquele momento podia não ter acabado. Mas sabe sempre bem quando ele volta e volta e volta.
Fiquemos sempre com a ideia de que, o que existe entre eles é real, existe, não é mensurável, mas é palpável. Ele agradece e ela, sente-se grata.

No comments: