Monday, April 20, 2009

Story Tellers #13

Aqueles dias começavam a agradar L. de uma forma que nunca se tinha apercebido antes. A brisa natural da sua cidade, o sol que deixava a sua timidez de lado e começava a aparecer. Tudo lhe parecia óptimo e, mais que tudo, apetecível. No entanto, o seu trabalho chamava e não se podem adiar compromissos. A sua costela de artista palpitava, como um espasmo, sempre a chamar por L. como se fosse aquele o destino. Ser artista poderia ser um sonho de vida que afastava toda aquela loucura de uma cidade avultada, sem significado e podre de beleza. A sua rotina era-lhe querida. Levantar cedo para tomar o pequeno-almoço calmamente, depois de um bom banho rápido, ler o jornal que, tipicamente teria de o comprar na lojinha por baixo do edifício onde vivia e aproveitar um bom café, que havia comprado numa das apaixonantes viagens a Paris, numa confeitaria mimosa cheia de traços característicos de uma cidade com centenas de anos de vida. Prosseguia o dia de autocarro para o grande monstro que era a empresa onde trabalhava, onde fazia o que lhe pedissem. Tinha talento e perspicácia. Poucos eram os que lhe falavam e os que lhe dirigiam palavra mais que o necessário, o que não chateava muito L., pelo contrário, gostava da sua pacata e calma vida. Mas algo continuava sem bater bem, sem fazer sentido. Um dia ganhou coragem, chegou ao pé de S. a patroa e disse que tinha um grande desejo de se despedir e de procurar mais de si pelo mundo fora. S. entendeu e, conhecendo L. nos últimos quatro anos que trabalhou para S., sabia que aquilo não era trabalho satisfatório. Rapidamente lhe deu um pequeno abono que ajudasse L. a prosseguir caminho e fazer o que mais gosta. No dia seguinte, com as malas preparadas, dirigiu-se ao aeroporto e, rapidamente embarcou numa viagem rumo à Europa, onde começou por Portugal. Percorreu as grandes cidades, as grandes aldeias, os grandes campos, as grandes montanhas. Não chegou a visitar as ilhas, deixou para outra altura. Acabou a sua visita portuguesa por lados de Vila Real Trás-os-Montes, onde passou a fronteira para se dirigir a várias, mas pequenas, cidades espanholas. Demorou exactamente quinze dias a fazê-la de uma ponta à outra. Quando chegou a Toulosse, França, parou numa pequena tasquinha, no canto da cidade, com fome e sede. Pensou que se podia esbanjar um bocado, tendo em conta o cansaso dos últimos dias. Pediu um dos melhores vinhos da região, um belo queijo acompanhado de presunto e azeitonas. No rebentar dos seus 34 anos, L. caiu da cadeira e, quando se agarrou ao peito, todos os presentes se levantaram para ajudar. Não haviam médicos presentes, só campónios em grupos de quatro constantemente a trocarem de posição uns com os outros para ajudarem na melhor forma que sabiam. L. morreu naquela pequena tasca, sem ver metade do que era a sua intenção. Antes de fechar os olhos, o seu último pensamento não foi de arrependimento, de medo ou de receio, mas de leveza por ter conseguido morrer longe do sítio onde nasceu.


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